setembro 30, 2009

setembro 29, 2009

Climas


Cassandras of Climate de Paul Krugman, Nobel da Economia em 2008

"Every once in a while I feel despair over the fate of the planet. If you’ve been following climate science, you know what I mean: the sense that we’re hurtling toward catastrophe but nobody wants to hear about it or do anything to avert it.

And here’s the thing: I’m not engaging in hyperbole. These days, dire warnings aren’t the delusional raving of cranks. They’re what come out of the most widely respected climate models, devised by the leading researchers. The prognosis for the planet has gotten much, much worse in just the last few years."

A Praxe (IV)


Ministro avisa reitores para não pactuarem com práticas “fascistas e boçais” 

O ministro da Ciência e Ensino Superior avisou hoje que não vai tolerar abusos nas praxes académicas, denunciando-os ao Ministério Público para responsabilizar quer os seus autores quer as direcções de instituições que permitam que aconteçam.

“Sempre que tenha notícia da prática de ilícitos nas praxes”, Mariano Gago ameaça dar “imediato conhecimento ao Ministério Público” e usar “os meios aptos a responsabilizar, civil e criminalmente, por acção ou omissão os órgãos próprios das instituições do ensino superior, as associações de estudantes e ainda quaisquer outras entidades que, podendo e devendo fazê-lo”, não tenham feito nada para as evitar.

setembro 28, 2009

O programa da liberdade

O CDS-PP teve o melhor resultado em 26 anos, fruto de alguma sorte na distribuição dos votos (teve mais 35 mil votos que o BE mas mais 5 deputados, enquanto o BE teve mais 110 mil votos que a CDU e apenas mais um deputado; por exemplo no Porto o último deputado foi para o CDS por 900 votos em relação ao BE) e de muito boa imprensa em relação a Portas, muito simpático a servir cafés ao mesmo tempo que passeia entre feiras (desde que não tenham ciganos) e calça as botas de agricultor experimentado. O trabalho liberta, mas se for para aumentar o salário mínimo vota-se contra. Realmente, “isto está mau porque os pobres andam a roubar”* é um slogan que dá votos. Nada disto é novo, excepto a imagem positiva de Portas na imprensa e a posição acrítica da maior parte dos comentadores, algo que já vem desde as eleições europeias, em que Nuno Melo se tornou o grande crítico do caso BPN/Banco de Portugal, sem nunca ser referido que o programa eleitoral do CDS defende ainda mais desregularização e menor fiscalização. É exactamente o programa eleitoral do CDS que está em causa, programa esse que nunca foi... esmiuçado durante a campanha (aliás, apenas o programa do BE foi examinado pormenorizadamente). Utilizando o discurso de Portas no domingo:

"O CDS será o partido das pensões mais baixas [sic], das famílias, da autoridade dos professores, da contratualização para acabar com as listas de espera na saúde, da liberdade de escolha na educação, na saúde e na Segurança Social."

"liberdade de escolha na educação" 
ler: possibilidade de optar por escolas privadas desde o secundário, numa lógica de fuga à escola pública, é claro, acessível apenas a quem tiver possibilidades para tal, isto é, "melhor" educação para quem a pode pagar. Resultado prático: a dimuição da qualidade e quase abandono do ensino público, evidenciado por experiencias baseadas nesta ideia de Milton Friedman em New Orleans pós-Katrina, exposto por Naomi Klein em "The Shock Doctrine";

"liberdade de escolha na sáude" 
ler: privatização da gestão dos hospitais (com resultados desastrosos já evidenciados mesmo em Portugal - "Hospitais com gestão privada com prejuízos acima dos 91 milhões"; Sócrates põe fim à era da gestão privada) e ao mesmo tempo maiores incentivos e benefícios de optar por clinicas privadas, é claro, para quem conseguir;

"liberdade de escolha na segurança social" 
ler: possibilidade de optar por em vez de descontar para o sistema nacional, descontar para fundos privados em bancos e seguradoras que depois aplicariam esses fundos nos mercados de capitais, sistema que ao mesmo tempo retira fundos do sistema nacional (logo agravando a crise em que o sistema já se encontra) e que ainda há um ano reduziu as poupanças-reformas de muitos americanos (onde já existe esta "liberdade") a quase nada - ver The 401(k) Could Prove a History-Making Fiasco e em Ladrões de Bicicletas:

"Se juntarmos aos cortes nas pensões os incentivos fiscais ao investimento em PPR (planos de poupança reforma) percebemos que as classes mais abastadas, com capacidade poupança, se deslocarão lentamente do sistema público para o sistema privado, dominado pela finança. O resultado será um sistema dual, onde teremos um frágil e exíguo sistema público destinado aos mais pobres e um sistema privado, dependente das rentabilidades dos mais exóticos produtos financeiros"

A praxe (III)

Comunicado do movimento MATA (movimento anti-tradição académica) sobre os acontecimentos em torno da morte de Diogo Macedo:

Em Outubro de 2001 Diogo Macedo, estudante do 4º ano de Arquitectura e membro da tuna, morreu devido a lesões cérebro-medulares, após acontecimentos ainda por esclarecer na noite em que aparentemente tinha decidido abandonar a tuna por não suportar mais as praxes a que era submetido. Inicialmente a morte tinha sido considerada acidental, mas as suspeitas de um médico do Hospital de S. João fizeram com que mais averiguações fossem efectuadas, tendo a autópsia demonstrado múltiplas escoriações corporais, além da fractura de uma vértebra cervical contraída por agressão e que teria sido a causa da morte.

Na sequência destes factos, dois elementos da tuna foram constituídos arguidos. Contudo, o processo foi arquivado em 2004 por falta de provas, uma vez que seria “impossível imputar à acção de qualquer pessoa concreta a produção das lesões”. Inexplicavelmente, apesar de estarem perto de 20 pessoas nas mesmas instalações que Diogo, nenhuma destas se recordava dos acontecimentos. Após a morte reuniram-se de urgência para alegadamente gizar versões, oportunamente criando uma amnésia colectiva que se apoderou dos “amigos” e “colegas” de Diogo, impedindo-os de fornecerem qualquer pormenor.

O Tribunal considerou provado que “Nunca a ré (universidade) teve algum controlo efectivo sobre esse tipo de praxes violentas e humilhantes. Não temos notícia que alguma vez tenha proibido a violência mencionada, aliás os factos apurados mostram a ausência de intervenção”, tendo ainda acrescentado que "Existe uma clara interdependência” com a ULF “que lhe cede espaço, subsidio e publicidade, em troca de evidente publicidade e charme académico que esse tipo de grupos traz à sua academia”.

A praxe (II)


Segundo o jornal i, 
Pela primeira vez uma universidade é responsabilizada. Médico que suspeitou dos alunos suicidou-se.

O Tribunal de Famalicão considera que a Universidade Lusíada foi responsável pela morte de um aluno na praxe, em Outubro de 2001. Diogo morreu com 22 anos depois de ser repetidamente agredido durante um ensaio da tuna. Os rituais ditaram a morte, mas o processo-crime foi arquivado, morrendo com ele a culpa dos agressores. A instituição, pertencente à Fundação Minerva, foi agora condenada - no processo cível - ao pagamento de uma indemnização de 90 mil euros à mãe, Maria Macedo, por omissão de acção.

O tribunal sublinha que a Universidade Lusíada de Famalicão (ULF) podia ter feito mais para evitar a morte de Diogo. Na sentença, à qual o i teve acesso, o juiz não tem dúvidas: "Se tivesse controlado as práticas de agressividade física e psicológica, tinha contribuído para que a morte não tivesse ocorrido." A ULF sempre alegou não ter responsabilidade sobre a tuna, por esta ser autónoma. Contudo, o juiz considera que a Lusíada "tinha o dever de controlar as actividades de praxe e os estudantes". 

(...)
A universidade devia ter proibido "esse tipo de comportamentos de pseudo-praxe, mais próprio de instrução militar", diz o juiz na sentença, considerando "caricata a desvalorização dos comportamentos que violam a integridade moral e física dos seus alunos", especialmente estando Diogo no 4.o ano.

(...)
As primeiras dúvidas foram levantadas por um médico que cruzou informações e desconfiou que teria morrido na praxe. O funeral, onde tocava a tuna e no qual a sua namorada vestiu pela primeira vez o traje, foi interrompido. O médico, que apresentou queixa ao Ministério Público exigindo medidas e garantindo que não ia desistir de provar a verdade dos factos, acabou por se suicidar dias depois, em circunstâncias suspeitas.

A praxe (I)

A praxe, num texto de Daniel Oliveira, publicado no arrastao 

"Em Coimbra, mas também em Lisboa, vejo espectáculos de humilhação colectiva. Em muitos casos com o consentimento dos próprios. Vejo a boçalidade satifeita consigo mesma. Vejo a ignorância transformada em cerimónia. Desde que não seja dentro da faculdade, digo eu, é lá com eles. E repito: aventurados sejam os idiotas porque deles é o reino da terra. Aquilo é a “tribo” no seu pior. É a obediência no que ela tem de mais degradante. Na rua passam em fila indiana, como carneiros, a repetir frases e canções inventadas por analfabetos. A praxe é o que seria uma sociedade sem cidadãos. Sem indivíduos. Sem inteligência. A praxe é a prova de como um pequeno poder de meia dúzia de imbecis chega para que a imbecilidade se transforme numa instituição. Dizem que serve para a integração. E é verdade. Ficam todos os praxados integrados na bovinidade dos praxantes. E essa é a razão porque odeio a palavra “integração”. Aquele que se quer diluir na mediocridade a nada mais pode aspirar do que a ser um medíocre. É por isso que só os inadaptados têm a corgem de resistir à barbaridade quando ela se impõe como natural. Dirão: que exagero, é apenas uma brincadeira. Não. É muito mais do que isso. É, como “tradição”, um código de conduta. A seguir no emprego, na vida, na família. É muito mais do que uma brincadeira. É uma lição. Isto é que é apenas um desabafo."

setembro 25, 2009

Voto útil

A campanha do PSD implodiu sobre ela própria nos últimos dias e as hipóteses de ser o partido mais votado desapareceram da mesma forma que vieram à superfície as tácticas e manobras de diversão preferenciais do aparelho do partido em relação ao próprio programa: a criação do caso das escutas é o mais evidente e agora que o embaraço de terem sido apanhados como um gato com o rato (JMF) na boca é aparente, o assunto que dominava os discursos passou ao estatuto de fait-divers, revelador de como a campanha do PSD tem sido esquizofrénica e sem ideias: apenas acusações infundadas e sem nexo, típicas de um partido acostumado ao poder que não sabe fazer oposição, e que não pode, porque o programa do PS não é assim tão diferente (por isso restam apenas estas acusações para dividir em busca de votos) e o discurso da verdade e da seriedade (ao mesmo tempo que inclui deputados suspensos nas listas porque estão a ser investigados) é vazio, tal como a retórica de Durão Barroso que se tinha centrado no combate ao corporativismo e às off-shores, remanescente do tempo em que faria parte do PCTP-MRPP.

O CDS tinha uma posição curiosa, na medida em que teria que ir buscar votos ao PSD (a que outro sítio os iria buscar) para crescer, mas ao mesmo tempo precisava que o PSD ganhasse ao PS para poder fazer parte de um eventual governo de coligação – é por isso que os possíveis votos que provavelmente o CDS vai receber agora que o PSD deve descer nas intenções de voto devem ser recebidos com um amargo de boca, tendo em conta que uma maioria de direita parece impossível.

O PS tem ganho alguns votos à esquerda com… medidas de direita – a defesa dos incentivos aos PPR privados, a manutenção do cartel das gasolineiras, a "flexibilidade" do emprego, centrando a discussão sobre o programa do BE, na esperança de afuguentar habituais votantes do PS que estariam inclinados a protestar contra o governo de Sócrates mas que devido à demagogia dos media inquinados de direita, são eleitores resignados a acreditar outra vez na retórica do ouve o que eu digo, não o que eu faço (os últimos 4 anos), prontos a votar PS no domingo para segunda-feira voltarem aos protestos. A ligeira descida do PS em relação a 2005 provavelmente significará que irá governar em minoria parlamentar, e é aqui que reside o facto mais importante destas eleições, o verdadeiro voto útil: um eventual governo do PS terá que procurar o apoio de outro partido(s) para passar legislação e por isso é importante legitimizar e fortalecer a posição da verdadeira oposição de esquerda – o BE e a CDU – de modo a que possam exercer pressão sobre as tentativas de políticas de direita do PS e ao mesmo tempo passar legislação progressiva sobre assuntos que têm sido esquecidos durante a campanha: o desemprego e a precariedade, a recuperação económica, a crescente desigualdade social, a manutenção de um modelo esgotado de sacríficio dos trabalhadores subjugados aos lucros corporativistas (para um campanha tão centrada nas PME’s é rídiculo que não se questione o facto de estas pagarem mais IRC do que os bancos). Quer o bloco central (PS-PSD), quer os media têm tentado influenciar os eleitores com a possibilidade de um governo de coligação PS-BE ou PS-CDU, mas a verdade é que não é interesse nem passa pelos planos do BE ou da CDU essa coligação, devido ao maior desgaste e menor flexibilidade dessa posição, já que com uma forte votação poderão influenciar as votações no parlamento caso a caso, e poderão controlar a agenda da política nacional ao invés de serem controlados.

setembro 17, 2009

9/12: Loucura ou ignorância?


video sobre os protestos de dia 12 em washington, a Tea Party march. Este movimento agrega todo um conjunto de "causas" que revelam o lado mais sinistro e radical da direita americana, apoiada por figuras da media de direita como glen beck ou rush limbaugh (que fazem milhões com os seus programas televisivos) e que apenas vai acabar por afastar as pessoas do centro, mais moderadas se o partido republicano continuar a apostar nestas pessoas como líderes ou na demagogia à Palin. Queixam-se que não votaram nestas políticas que Obama tenta passar mas a verdade é que nunca votariam num democrata, representam apenas uma pequena parte da população preconceituosa, racista, xenófoba e ignorante, e não são de qualquer modo um alvo demográfico do partido democrata (ou qualquer partido sensato). São pessoas que se juntaram à volta de um movimento anti-Estado, que defendem a abolição de todos os impostos, mas que durante os 8 últimos anos em que Bush aumentou exponencialmente a despesa pública apenas se preocupavam em apoiar patrioticamente o país que estava em guerra. Apelam para boicotar Hollywood porque John Wayne é que tinha razão e são capazes de celebrar a morte de Ted Kennedy, e que no fundo não querem que a cobertura do sistema de saúde se alargue ao mais necessitados porque receiam que isso vá afectar os custos da cobertura do seu seguro de saúde...

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