abril 06, 2009

G20 e a anedota do Consenso de Washington

Declarou Gordon Brown no final da reunião: O consenso de Washington acabou. Não haviam grandes expectativas que saísse algo de diferente do comício dos G20 em Londres mas as medidas anunciadas além de decepcionantes são quase ridículas.

Primeiro, o Consenso de Washington: representa um conjunto de medidas desenhadas pelos políticos e economistas americanos, um guia de índole fundamentalista destinada a expandir o neo-liberalismo e o “free market”, uma solução única a ser adoptada pelos diferentes países em subdesenvolvimento para sairem de críses – as medidas teriam que ser adoptadas de modo a receber ajuda do FMI/Banco Mundial/EUA – um modelo que é em grande parte responsável neste momento pela globalização da crise (uma descida na Bolsa de NY leva a despedimentos na Indonésia). As medidas incluem:

- incremento dos direitos legais na defesa da propriedade privada (nota: é preciso ter em conta que justiça para o liberalismo, desde Adam Smith, resume-se a garantir o direito à propriedade privada)
- eliminação de tarifas sobre importações, abertura dos mercados a produtos estrangeiros, eliminação de proteccionismo a indústrias nacionais
- desregulamentação: abolição de regulamentações que limitem a concorrência ou entrada no mercado (i.e. fiscalização séria dos mercados)
- privatização de empresas públicas, como no sector da energia e serviços
- liberalização (i.e. diminuição de restricções) a entrada de investimento estrangeiro
- contenção salarial (para atrair empresas que procuram baixos salários)

O objectivo era simples: aumentar os mercados disponíveis para as grandes potências económicas e garantir novos locais para produzir a baixos custos. A evidência empírica mostra o falhanço destas políticas (exemplo: países sul-americanos como Argentina, Chile, Venezuela) e o economista americano Dani Rodrik demonstrou no seu “Goodbye Washington Consensus, Hello Washington Confusion?” publicado em Janeiro 2006 que não só o crescimento económico nos países que seguiram o consenso foi reduzido como os objectivos não foram alcançados. Logo, não é algo de novo a constatação do falhanço do Consenso, mas aparentemente para os líderes do G20 isso é algo recente. O mais preocupante no entanto é que a principal medida tomada na reunião em Londres foi re-financiar o FMI com 1 trilião USD$, um claro indicativo que o futuro próximo passa pela continuação do mesmo modelo de sujeição dos países às medidas de neo-liberalismo exigidas pelo FMI e até que este pode ser o único caminho possível para quem entretanto tenha entrado em recessão – mais do mesmo, com a agravante que agora é ainda mais evidente o falhanço destas políticas, sendo claro que a saída das grandes economias da recessão passa pela exploração de novos mercados de países fragilizados, uma ode às multi-nacionais.

Outro factor relevante da cimeira G20 é a demagogia populista que sobressai do discurso oficial, 1) as medidas são discutidas e preparadas nos meses antecedentes à cimeira pelos principais países e os 2 dias em Londres são apenas para oficializar o acordado previamente, independentemente das teatralidades de Sarkozy ou Merkel; 2) a utilização do tema off-shores para tentar mostrar que efectivamente se fez algo significativo ou que existe vontade em combater situações menos claras quando na realidade nada ficou definido relativamente a algo que é uma vergonha mundial (mas, já Durão Barroso tinha feito do combate às off-shores um dos pontos centrais da sua campanha legislativa e agora Sócrates prepara-se para fazer o mesmo); 3) a limitação dos bónus dos executivos é uma boa medida mas era algo inevitável e que não exige grande coragem dado o contexto actual, sendo igualmente utilizado como se representasse uma mudança significativa nas políticas seguidas. Medidas para combater o desemprego crescente, a precariedade social ou a crise ambiental: zero.

Antigamente quando não existiam sistemas adequados de ventilação nas minas de carvão utilizava-se um canário como cobaia: quando este morresse era sinal que algo estava mal. Canary Wharf é também um centro financeiro em Londres com filiais de bancos como o Credit Suisse, HBSC e o Citigroup. É pois significativa a forma de protesto escolhida pelo grupo War on Want:

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