setembro 25, 2009

Voto útil

A campanha do PSD implodiu sobre ela própria nos últimos dias e as hipóteses de ser o partido mais votado desapareceram da mesma forma que vieram à superfície as tácticas e manobras de diversão preferenciais do aparelho do partido em relação ao próprio programa: a criação do caso das escutas é o mais evidente e agora que o embaraço de terem sido apanhados como um gato com o rato (JMF) na boca é aparente, o assunto que dominava os discursos passou ao estatuto de fait-divers, revelador de como a campanha do PSD tem sido esquizofrénica e sem ideias: apenas acusações infundadas e sem nexo, típicas de um partido acostumado ao poder que não sabe fazer oposição, e que não pode, porque o programa do PS não é assim tão diferente (por isso restam apenas estas acusações para dividir em busca de votos) e o discurso da verdade e da seriedade (ao mesmo tempo que inclui deputados suspensos nas listas porque estão a ser investigados) é vazio, tal como a retórica de Durão Barroso que se tinha centrado no combate ao corporativismo e às off-shores, remanescente do tempo em que faria parte do PCTP-MRPP.

O CDS tinha uma posição curiosa, na medida em que teria que ir buscar votos ao PSD (a que outro sítio os iria buscar) para crescer, mas ao mesmo tempo precisava que o PSD ganhasse ao PS para poder fazer parte de um eventual governo de coligação – é por isso que os possíveis votos que provavelmente o CDS vai receber agora que o PSD deve descer nas intenções de voto devem ser recebidos com um amargo de boca, tendo em conta que uma maioria de direita parece impossível.

O PS tem ganho alguns votos à esquerda com… medidas de direita – a defesa dos incentivos aos PPR privados, a manutenção do cartel das gasolineiras, a "flexibilidade" do emprego, centrando a discussão sobre o programa do BE, na esperança de afuguentar habituais votantes do PS que estariam inclinados a protestar contra o governo de Sócrates mas que devido à demagogia dos media inquinados de direita, são eleitores resignados a acreditar outra vez na retórica do ouve o que eu digo, não o que eu faço (os últimos 4 anos), prontos a votar PS no domingo para segunda-feira voltarem aos protestos. A ligeira descida do PS em relação a 2005 provavelmente significará que irá governar em minoria parlamentar, e é aqui que reside o facto mais importante destas eleições, o verdadeiro voto útil: um eventual governo do PS terá que procurar o apoio de outro partido(s) para passar legislação e por isso é importante legitimizar e fortalecer a posição da verdadeira oposição de esquerda – o BE e a CDU – de modo a que possam exercer pressão sobre as tentativas de políticas de direita do PS e ao mesmo tempo passar legislação progressiva sobre assuntos que têm sido esquecidos durante a campanha: o desemprego e a precariedade, a recuperação económica, a crescente desigualdade social, a manutenção de um modelo esgotado de sacríficio dos trabalhadores subjugados aos lucros corporativistas (para um campanha tão centrada nas PME’s é rídiculo que não se questione o facto de estas pagarem mais IRC do que os bancos). Quer o bloco central (PS-PSD), quer os media têm tentado influenciar os eleitores com a possibilidade de um governo de coligação PS-BE ou PS-CDU, mas a verdade é que não é interesse nem passa pelos planos do BE ou da CDU essa coligação, devido ao maior desgaste e menor flexibilidade dessa posição, já que com uma forte votação poderão influenciar as votações no parlamento caso a caso, e poderão controlar a agenda da política nacional ao invés de serem controlados.

1 comentário:

ana disse...

Muito bem, John!
Amanhã teremos todos uma noite deveras difícil :)