fevereiro 09, 2007

Sim pela Vida

Sim Pela Vida.

A decisão de uma mulher em abortar será uma das mais difíceis que alguma vez terá que tomar. Sejamos verdadeiros: depois de tomada a decisão existirá alguém que acredite que o facto de isso poder ser ilegal irá afectar essa decisão? Já bastará a estigmatização e muitos outros factores sociais, económicos e sentimentais; a possível ilegalidade será certamente um factor menor.

Logo, a consequência da penalização do acto é óbvia – não diminui o número possível de abortos, não diminui o acesso ao aborto, apenas diminui as condições de saúde a quem o faz e o empurra para o vão de escada. É então importante que existam condições humanas para a IVG, que não seja um acto escondido – trata-se de assegurar a saúde dessas mulheres – da sua vida. Até porque não poucas vezes surgem complicações físicas e mentais que duram uma vida, que por vezes implicam até a perda da possibilidade de futuramente voltar a engravidar – vidas futuras que se perdem?

Existirá ainda alguém que na sua ingenuidade acredite que pode influenciar a vida de outra pessoa, influenciar o que fazer com o seu corpo? Que devido à minha ideologia, a rapariga de 15 anos a quem a quem a contracepção falhou seja obrigada a recorrer a uma clínica(?) clandestina em vez de ter as condições mínimas num hospital? Ou que uma mãe de um que vive em condomínio fechado obrigue a mãe de 5 que vive com menos que um salário mínimo a arriscar-se porque não pode ir a Espanha? Onde fica o respeito pela vida destas mulheres?

Porque é disto que se trata a lei actual: eu quero criminalizar quem faz algo contra as minhas morais – se alguém aborta deve ser penalizado. E o referendo não mais é do que sobre isto: deve uma mulher que recorre ao aborto ser considerada criminosa? Não é sobre a liberalização do aborto: esta já existe com o aborto clandestino, aí não existem limites como as 10 semanas. Não é o aborto que está em referendo, muito menos o direito à vida. Apenas: concorda com a despenalização da mulher? Abortos já existem e vão continuar a existir e não me parece que exista aconselhamento ou informação e apoio em casas clandestinas.

Se o não ganhar Domingo, não haverá por isso menos um aborto do que havia antes. Até porque como é obvio se o sim tiver maioria, não vai interferir com a ideologia de quem votou não (excepto talvez com quem deveria ser deontologicamente isento no primeiro lugar): podem continuar a ser pela vida à sua maneira. Mas não obriguem outros a morrer por isso.

Sim quero acabar com o aborto clandestino. Não quero acabar com o aborto clandestino.

3 comentários:

ana disse...

Este é um dos melhores textos que já li sobre a questão.
Tão simples quanto isto: domingo, dia 11, só pode ser um dia SIM.

ana

Anónimo disse...

O blog "quem tem um filho tem-no por gosto" está muito bom. Tirando o Johnny Boy que é um guna e ainda não sabe.
Os defensores do Não, como sempre, só se enterraram ainda mais (vejamos o exemplo do Marcelo Rebelo de Sousa), embora alguns argumentos do Sim deixaram muito a desejar.
A sociedade portuguesa, mais uma vez, com esta questão do referendo sobre o aborto mostrou o quanto ainda precisa evoluir. A hipocrisia e a demagogia continuam a reinar e a conquistar os corações dos “portuguezinhos” cheios de vontade de ser bons e caridosos com os mais pobrezinhos e desfavorecidos. Quando o seu objectivo não é acabar com essa situação, mas mantê-la. Porque senão quem ia ser a audiência para os seus discursos lamechas e beatos.
Mas uma coisa é certa, muitas pessoas que não se envolviam em nada e que nunca se queriam comprometer saíram da casca. Só por isso valeu a pena.
Quanto a mim neste referendo não vou para uma mesa de voto.
E vou votar pelo sim.

SB

Anónimo disse...

O blog "quem tem um filho tem-no por gosto" está muito bom. Tirando o Johnny Boy que é um guna e ainda não sabe.
Os defensores do Não, como sempre, só se enterraram ainda mais (vejamos o exemplo do Marcelo Rebelo de Sousa), embora alguns argumentos do Sim deixaram muito a desejar.
A sociedade portuguesa, mais uma vez, com esta questão do referendo sobre o aborto mostrou o quanto ainda precisa evoluir. A hipocrisia e a demagogia continuam a reinar e a conquistar os corações dos “portuguezinhos” cheios de vontade de ser bons e caridosos com os mais pobrezinhos e desfavorecidos. Quando o seu objectivo não é acabar com essa situação, mas mantê-la. Porque senão quem ia ser a audiência para os seus discursos lamechas e beatos.
Mas uma coisa é certa, muitas pessoas que não se envolviam em nada e que nunca se queriam comprometer saíram da casca. Só por isso valeu a pena.
Quanto a mim neste referendo não vou para uma mesa de voto.
E vou votar pelo sim.